Elas estão fumando mais do que eles

Pesquisa do Ministério da Saúde revela que houve um aumento de 3,9%

Quando Edna de Souza, 49 anos, acende o cigarro, o marido, José Oliveira Santos, 26, faz cara feia. O contraste do casal, que mora em Florianópolis, configura o novo panorama da cidade. Dados do Ministério da Saúde (MS) mostram que o número de mulheres fumantes ultrapassou o de homens na Capital. O levantamento ouviu por telefone mais de 2 mil pessoas entre 12 de janeiro e 22 de dezembro de 2009. A pesquisa será divulgada na imprensa na segunda-feira. Clique Aqui para acessar os dados estatísticos!

De acordo com a pesquisa, o número de mulheres fumantes acima de 18 anos aumentou 3,9% em relação a 2006. São 5,6 mil a mais que estão adeptas do cigarro na Capital catarinense.

Além disso, conforme o último censo do IBGE (2000), das 275.116 pessoas com mais de 18 anos que vivem em Florianópolis, 143.548 são mulheres. Destas, a pesquisa do MS apontou 28,5 mil fumantes no ano passado, contra 27,1 mil homens.

O levantamento do Ministério realizado em todas as capitais brasileiras mostra que a realidade de Florianópolis é a mesma que a de outra capital do Sul do Brasil: Porto Alegre. Lá, o percentual de mulheres que fumam saltou de 17% para 22%, também igualando-se ao de homens. Com base nos números da população adulta da capital gaúcha, é como se 36,9 mil mulheres passassem a fumar nos últimos três anos.

Edna de Souza quer sair dessa estatística e, para isso, estabeleceu uma data para dar fim ao seu vício: 7 de julho. De acordo com ela, a decisão foi tomada não apenas pela insistência do marido e do neto Bernardo, de cinco anos. Mas, principalmente, por ela mesma.

– O cigarro é uma coisa que vai te destruindo aos poucos, como se você tivesse um machucado que vai aumentando a cada dia – compara.

O marido José ainda se mostra reticente quanto à promessa feita pela mulher. Ele diz não ter nada contra os fumantes, mas não suporta o cigarro. Nunca fumou. E torce por ela.

Se Edna vencer o vício vai passar a fazer parte de uma estatística que também não está nada favorável ao sexo feminino. Enquanto que os homens tiveram um aumento de 0,9% nestes três anos – de 24% para 24,9% –, as mulheres tiveram um registro contrário: queda de 0,2%.

MELISSA BULEGON
O cigarro e a mulher no tempo
- Anos 20 - Início da industrialização do tabaco e do consumo em larga escala no mundo, mas apenas entre os homens. Não se viam mulheres fumando em público.
- Anos 30 e 40 - Os anos dourados de Hollywood exaltam a imagem glamourosa da mulher fumante em interpretações de Greta Garbo, Marlene Dietrich e Rita Hayworth. Os fabricantes pagavam grandes estúdios para colocar um cigarro entre os dedos das atrizes, para que fossem imitadas pelas fãs. Com a guerra, ocorre o boom do consumo. Exércitos ajudam a disseminar o hábito em novas áreas. Ao retornar para casa, soldados acabavam iniciando as mulheres no vício.
- Anos 50 - Começam a surgir os primeiros estudos sobre os malefícios do tabaco. Mulheres já fumam, mas aparecer em público com um cigarro na mão ainda é malvisto socialmente.
- Anos 60 e 70 - Propagandas procuram estimular o consumo – o movimento feminista torna o momento propício para associar o hábito à liberdade da mulher. Surgem cigarros mais finos e de aromas mais delicado para chamar a atenção delas.
- Anos 80 - Mais consciente dos danos à saúde, a população dos países desenvolvidos começa a reduzir o consumo – comportamento mais visível entre os homens. Especialistas avaliam que, na contramão, as mulheres estavam mais preocupadas com a igualdade entre os sexos, tendo no cigarro um falso marcador de liberdade. A indústria passa a focar suas estratégias em dois grupos de consumidores: jovens e mulheres.
- Anos 90 e 2000 - Estudos mostram que, entre adolescentes, mais meninas do que meninos estão começando a fumar. O grupo de fumantes homens, tabagista há mais tempo, está diminuindo. A tendência mundial é que o fumo se dissemine entre jovens, mulheres e classes menos favorecidas. Nos países onde as mulheres têm menos direitos do que os homens, o cigarro ainda é visto como forma de se igualar socialmente a eles. É como se esses locais vivessem agora o que os ocidentais passaram na década de 60.
Fontes: pneumologista José Chatkin e psicóloga Cristina Perez [Fonte: DC]

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